25 de dezembro de 2013

Merry Christmas, Capitalism


[...]Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta:
Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco.
E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher;
E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe por nome Jesus.

(Mateus 1: 22, 23, 24 e 25)

A humanidade assusta o olhar mais observador pela sua natureza dupla. O óbvio e o nebuloso desafiam qualquer física ocupando o mesmo espaço diante dos nossos olhos. Os homens se embriagam em sua sobriedade e seguem suas existências sem nada notar e aos mais calmos e analíticos, o mundo parece estar hipnotizado - com algumas situações que apenas contribuem para deixar isto latente, ao referido observador fica ainda mais fácil de tecer comentários sobre a natureza geral humana baseado nas atitudes individuais e sociais nesses períodos.


Direto ao ponto: o Natal é uma data que deixa clara contradições absurdas de uma maneira quase caricata. Nota-se nesse período as grandes questões humanas. Religião (alienação), Capitalismo (exploração) e a depressão existencial de uma espécie cansada, estampam os rostos e o mais incrível é: ninguém percebe.

Durante o ano explorações ocorrem de maneira velada: rios de dinheiro em forma de trabalho não pago - expropriado de uma classe, essa sim que com sua força de trabalho faz o capital de fato se tornar produtivo - vão em direção ao bolso de uma classe detentora desse capital, que enriquece baseada nas leis da propriedade privada (por propriedade privada, sábio leitor, não falo seu querido celular V3 parcelado nas lojas americanas, mas uso o termo como definição da propriedade dos meios de produção, propriedade essa que legitima a exploração de uma classe sobre a outra simplesmente pela detenção dos direitos da mesma - na maioria dos casos adquiridos de forma escusa).
Há também a exploração que o estado faz via impostos, que jamais retornam na forma de investimento, mas sim inflam essa máquina cujo papel é apenas defender os interesses de uma classe em detrimento de outra, ou seja, uma ferramenta a mais nas mãos dominantes para manter e exercer seu domínio e perpetuar sua exploração.

Diversas são as manobras que mantém tais explorações veladas e os trabalhadores, como cegos, permanecem em tais ciclos sem compreender sua condição. Como que dopados, não percebem as reais relações por trás dos produtos de seu trabalho, relações sociais que se escrutinadas levariam a óbvia conclusão de domínio e assalto da nossa força de trabalho. A religião, a mídia burguesa, a moral ocidental - todas são ferramentas Ideológicas com o único fim de perpetuar o domínio burguês (a Religião tem implicações mais profundas no que tange a natureza humana e a necessidade do Ser consciente ter um sentido), mas ainda sim é em seu principio matéria Ideológica, ou seja, na definição marxista é um falseamento da realidade, uma distorção ideal das reais relações dos indivíduos, com o propósito de esconder essas relações, enganando os homens e afastando eles das verdadeiras contradições que os permeiam. O Estado é tido como um defensor dos interesses do Povo, quando apenas defende os interesses dominantes. A religião perpetua relações hierárquicas e como um ópio, mantém o povo sob controle.

E assim é durante todo ano durante séculos.

Aos chegar o Natal, após todo um longo ano difícil, o que me choca e impressiona é ver o trabalhador comum se esforçando, lutando, passando por aperreios com o único fim de consumir. Devolver a parte que lhe sobrou após ser roubado pelo sistema ao sistema e, o pior de tudo, sofrer para esse propósito. Só um sistema de alienação perfeito das reais contradições sociais, que as mascara nas suas desigualdades e injustiças, conseguiria fazer com que o assaltado pagasse ao assaltante. O grande medo da estagnação econômica exige um crescimento exponencial de um sistema que não se sustenta. O problema é em essência menos de quantidades e mais de alocação. O sistema é mau, mas perfeito, no que se propõe - miséria, desequilíbrio, desigualdade, embriaguez social e muito enriquecimento.

O Capitalismo é um sistema suicida que exige um crescimento de demanda insustentável. E as mercadorias se portam como se tivessem vida própria, e o ciclo 'exploração - frustração - consumo - frustração - exploração' é o que mantém esse sistema e todos que o defendem, afirmam seu gosto pela frustração que este faz. O fetiche da mercadoria salta aos olhos de pessoas vazias durante 12 meses, mas que em um dia, ao receber um produto para sanar uma necessidade criada, tentam se satisfazer.

O que é eterno em nós se perde. E nossa raça se artificializa e se afasta, e os bons homens apenas olham para grande estrela que brilhara um dia em Nazaré, descrentes que o Salvador outrora nascido para salvar o mundo possa olhar por seus filhos novamente.


                                   


Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla,
teste David cum Sibylla.
Quantus tremor est futurus,
quando judex est venturus,
cuncta stricte discussurus!

Day of wrath, day of anger
will dissolve the world in ashes,
as foretold by David and the Sibyl.
Great trembling there will be
when the Judge descends from heaven
to examine all things closely.


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