20 de junho de 2013

A inércia protestante




  Chegamos ao ponto de dobramento do estado diante dos últimos protestos na cidade de São Paulo, desistindo do aumento da tarifa do transporte público (ainda que exista a possibilidade desse corte de custos ser descontado em outras frentes de impostos, o que anula todo o processo no seu aspecto prático, mas não no emocional). Ainda que essa massa que tomou as ruas possua um pensamento heterogêneo e mais demandas além da passagem, já podemos considerar essa pequena vitória como um bom ponto de partida para aqueles que desejam buscar mais. Entramos na inércia protestante e não podemos parar essa movimentação. Mas sem objetivos de verdade não conseguiremos nada.





  Sentir e constatar a possibilidade de mudar decisões governamentais não é algo que o brasileiro está acostumado, ao contrário, há décadas um sentimento de impotência e desanimo para reivindicar tomava o cotidiano nacional. Porém, a mídia continua exercendo um papel negativo ao disseminar suas informações e direcionamentos sobre os acontecimentos. O sentimento nacionalista que se instalou nos protestos em nada colabora para os fins práticos dos mesmos e ainda revela uma aproximação da ala conservadora nessa espetacularização. Ir às ruas com um pensamento heterogêneo, protestando por aquilo que você individualmente julga como relevante não ajuda. Ou pior, com o apoio massivo da mídia, os protestos viraram também uma grande concentração, não so de movimentos individuais e irrelevantes para o coletivo, mas de um mecanismo de vaidade e ego, onde a demanda era por uma boa foto para exibir nas redes sociais e se posicionar como jovem engajado através de um texto de quem esteve “por dentro” do protesto. A elitização e a banalização dos protestos acaba por retirar o seu fim prático e resultam apenas em uma massa sem uma demanda específica, gritando coisas aleatórias em uma grande caminhada, sendo essa condição responsável pelo cansaço e desistência da mesma.
  Como pedir tudo e não pedir nada ao mesmo tempo


  O básico de um protesto é ter uma demanda objetiva e clara, não necessariamente singular. E se tal demanda não for atendida, que a pressão continue firme e ampliando o sua ameaça sempre, mesmo que alguns julguem certas ações como vandalismo, afinal, não se protesta com carícias. Se em um primeiro momento foi a queda do aumento da tarifa, que tracem coletivamente a demanda seguinte e deixem o objetivo bem claro para aqueles que saem de casa não encararem aquilo como um “movimento contra o tudo”. Organização é bem-vinda, com uma causa por vez e foco, muito foco.
  
      Mais importante do que se organizar de fato (algo que as redes sociais não conseguiram de verdade até o momento, sendo seu principal trunfo apenas a adesão em massa pautada pelo ego do seus usuários, sem generalizar, claro) é continuar o estouro da boiada, atropelar anos de silêncio em um momento tão oportuno pelo qual o Brasil passa. Que o fetiche revolucionário seja deixado de lado na continuação do processo, ainda que ele tenha tido alguma utilidade no início, é necessário que as pessoas cheguem às ruas com ganas maiores do que fotos com seus rostos pintados e comentários mil para a internet. Vinte centavos foi o primeiro soco tímido daquele que não queria entrar na briga, mas que deve virar uma monstruosa sequência de jabs e cruzados para desfigurar o estado. Idealismos de lado, na realidade crua não mudaremos o país de ponta à ponta como muitos desejam, mas essa briga ainda pode render bons frutos se tivermos mais foco naquilo que é tangível.
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