Se eu tentasse hoje dizer o que move toda existência do homem, o que a faz plena e o que a soterra, eu diria em uma só palavra: Paixão.
Sentidos, motivações, o que quer que seja - em uma paixão podemos suprimir todas essas aspirações. Viver é se apaixonar, do contrário não só a existência como os homens se tornam vazios e desprezíveis, dignos de uma pena não só externa como pessoal.
Ter paixões e também torná-las reais, isso verdadeiramente é o que gera todo movimento individual, o que resta é alienação e negligência.
Onde moram suas paixões? Pergunta perniciosa esta que normalmente mistura-se com 'talvez eu nunca estivesse de fato ligado a isso". Religião ou dinheiro são paixões 'comuns' que quando tratadas como fins, servem apenas como paliativo a nossa essência. O dinheiro é um meio e quando não utilizado como tal para atingir verdadeiras realizações pessoais palpáveis, demonstra a personalidade nula do possuidor.
É com extrema facilidade que se cai em uma existência circular, dopando-se com falsos motivos sem preocupar-se com seus objetivos, ignorando o que te caracteriza como ser pensante.
As pessoas apenas sobrevivem e distantes de suas paixões se assemelham a animais de consumo, rebanho criado sem sangue ou cor. Numa sociedade circular e niilista fomos jogados, esquecendo-nos de quem somos e muitos sem nunca conseguirem ao menos ser.
Ah homens vis! Com quanto horror e arrependimento seriam acometidos ao perceberem como suas vidas foram perdidas e desnecessárias! Amadurecer é perceber o quanto você terá de sofrer e abdicar, mas somente para atingir e viver suas paixões.
Somos diferentes e partimos de distintos lugares, mas se o que te move é ilusório, ideologias falsas e baratas - se a mentira social te cegou e com as próprias mãos te jogou no meio dos niilistas sem coragem, meros sobreviventes, resta-me um suspiro e o frio na barriga característico de quem quase foi atropelado e num segundo vê a vida diante de si - escapei por pouco.
E nesse processo que tanto se descobre, a falta de sentido na existência em si e no que atribuem a ela não é em nenhum ponto a última conclusão, mas se me permitir sinalizar o próximo passo, organizado leitor, apenas diria que ao homem cabe descobrir o que lhe envolve e completa verdadeiramente, a apenas sofrer a parte que lhe cabe, conforme consegue, quando por trás disso se escondam grandes ou pequenas paixões e enfim seja um produtor de vida, não só consumidor de produtos. Porque os maus niilistas enchem igrejas e lojas, enquanto homens de verdade estão a viver suas paixões, e esto no es una cosa que puede cambiar.