É uma ciência por excelência e não deve em importância a
nenhuma outra de cunho matemático e aparentemente mais prático – é na verdade
apenas diferente, ora se não é em essência o estudo que trata das relações
entre indivíduos e das estruturas organizacionais de aglomerados humanos com
diversas finalidades e métodos, que cuida de analisar o intercâmbio desse individuo com a sociedade (e vice-versa) e até onde ele é limitado por tal meio
(tido não como essência dada, mas sim herança histórica) e sua capacidade de
altera-lo, considerando as ferramentas práticas e reais das quais
dispõe.
A ciência social junto com a economia utiliza da história,
da distribuição e das relações de produção, bem como outras ferramentas
análogas de igual importância, adquirindo assim um valor imprescindível nos
temas que permeiam a vida de cada homem e aos quais invariavelmente nos
submetemos.
Descobrir todo impulso humano é essencial para descobrir o
processo que dá origem às suas ações, é estudar os caminhos dos rios que
desaguam no mar.
Mas o estudo desse mar, suas divisões e particularidades, o
quanto determina e o que lhe determinam – isso é em essência um estudo econômico e social – se pensarmos no mar como o conjunto dessas ações.
Introduzo a este conceito para dizer que as ciências e métodos não se sobrepõem,
mas sim estudam momentos diferentes, bem como áreas diferentes da vida humana e
da natureza. Juntas seguem o ingrato caminho de se aproximar do que é real e,
sendo a velha filosofia de assuntos ‘puros’, metafísicos, ilusórios, limitados e
distantes a parte das ciências humanas que é a nós inútil resta aquela que de
fato estuda o que é palpável, uma ciência da história e que qualitativamente
pode nos ensinar a bendizer o futuro, alterando os alicerces do presente com
base em conhecimentos adquiridos da correta análise do passado.
Tal matéria é gasta e assobiada foi por Marx e outros mais
há bastante tempo, retomo-a aqui pra reafirmar a importância do estudo que
trata das reais relações e suas desambiguações práticas, emancipando assim a vida
do homem não com conceitos ideológicos e febris, cujo raciocínio contém apenas
arrogâncias de filósofos e abstrações desnecessárias, mas que vise a vida plena
e o bem estar.
O estudo das relações de produção, do processo produtivo em
si, das forças produtivas, das ferramentas de dominação, da divisão do
trabalho, da partilha dos bens e propriedades e de como ela se deu durante a
história: tudo isso é estudo econômico, mostrando assim que, apesar de estar
como as demais ciências submetida ao capital e sendo vista pelo prisma do
capitalista como mera profissão na manutenção do mesmo, a economia se torna
protagonista quando utiliza seu método em certas relações específicas dos indivíduos É o estudo de tudo o que é socialmente real e que permeia nossas vidas
diariamente. Seus objetos de análise são assuntos que determinam em muito todo
rumo de nossa vida já que o trabalho é atividade essencial na
característica humana de produzir os próprios meios de sua existência.
O clichê ‘’[...]definida como a ciência que estuda a forma
como as sociedades utilizam os recursos escassos para produzir bens com
valor e de como distribuem esses mesmos bens entre
os vários indivíduos. ’’ em muito resume e, sendo a vida real também econômica, cada ser um ser econômico, se relacionando economicamente diariamente por meio
do seu trabalho, suas trocas, com pessoas economicamente equivalentes segundo a
divisão vigente - possibilitada pela distribuição que o sistema atual impõe - e
assim, sendo moldado a toda hora por fatores estudados pela economia e também
economicamente alterando esses fatores, assumimos a qualidade dessa abordagem e
a importância de aprimorar seu método.
Os tipos de pessoas que você convive, seus amigos e suas
possibilidades em geral – tudo o que você atribui a uma individualidade
imaculada e sábio destino, na verdade é um caos que têm seus limites de ação (espaço
amostral) delineados por alguns fatores, sendo um dos principais a determinação econômica. Sou amigo do Mohamed Daqui, além de alguns outros fatores caóticos,
por sermos de uma classe social específica, que nos condicionou a estudar numa
escola também específica (própria pra essa classe).
Se um de nós estivesse em posição mais ou menos avantajada
não conviveríamos nos mesmos ambientes e assim provavelmente não existiria nem
este blog.
Esse determinismo social é uma particularidade de sistemas econômicos desiguais e exploradores, que faz com que não apenas acontecimentos
aleatórios e limites naturais se imponham sobre a vida das pessoas, mas também
o poder aquisitivo, que nessa organização social têm importância direta na
mobilidade e na liberdade decisória. (Possibilidades de consumo, divisão do
trabalho, convivência, conhecimento, religião – tudo isso ainda em muito se atrela ao status quo e compõem as barreiras impostas pelo capital e pela
propriedade privada conquistada através da exploração e mantida também por ela)
As ciências tidas como práticas (exatas ou naturais)
produzem tecnologia e bem estar, mas se não acompanhadas de verdadeira
consciência são inúteis na tentativa de vida melhor, os homens se mantém
apáticos e a exploração massiva, a História é pras ciências humanas o que a
Natureza é para as demais e ambas devem juntas caminhar para a busca da verdadeira qualidade de vida, o trabalho e a produção dos meios de existência é apenas
alienação e tecnologia vazia quando não acompanhados por reflexão.
O próximo texto irá conter um rápido relato sobre o conceito
de Ideologia elaborado por Marx e Engels, que dissecam essa ferramenta de domínio
e de como ela nos engana, afastando-nos da verdade e dando motivos ilusórios a
processos contrários a esse motivos. Como leitura póstuma recomendo “A Ideologia
Alemã” desses mesmos autores que utiliza de devido rigor cientifico ao tratar
do assunto e como leitura complementar, alguma pesquisa mais geral sobre o
conceito de dialética em Hegel, ao qual Marx se opôs, sendo o fruto dessa
oposição o conceito de materialismo histórico.