18 de novembro de 2012

O Sentido


E eis que surge o homem. Não discutiremos como, mas apenas afirmemos o óbvio: ele surge. E todos os seres viventes tem semelhanças e diferenças entre si, mas esse homem tem uma característica mais avançada nele que em qualquer outro animal.

O homem existe. O homem pensa.

Isto posto, faço a pergunta mais oportuna para o inicio desse texto - como nasce a religião e para que ela nasce? O ser humano num primeiro momento, questionou o que o cercava e sentiu uma necessidade de explicar eventos rotineiros.
A religião no inicio do mundo nos aparece como explicação ao desconhecido. Desde a chuva até o fogo, o sobrenatural precede o cientifico. Por isso dizer que a religião é mãe da ciência, por mais opostas que pareçam, não é ignorante: a tentativa de explicar o mundo é característica de ambas e, se antes a religião atribuía o mundo a Deus, hoje a ciência o explica com uma explosão.
O tempo passa e o ser humano, como ser pensante, ao se encontrar com o sofrimento da vida material se faz mais uma pergunta: qual a necessidade de sofrer? qual o sentido da dor e da decepção e qual meu ganho com isso?



O sentido nasce pra homologar o sofrimento. O ser lógico necessita de uma motivação pois em principio compara pesos e medidas de cada situação com que se depara. Sofrer sem motivo não soa sensato. A necessidade de motivos nessa vida dolorosa é uma necessidade da nossa natureza lógica.
E é aí onde nasce a religião – o homem mais que precisa de explicações pro que o cerca, o homem precisa de forças pra continuar.

Ela não é atrelada simplesmente a este ou aquele deus, ela é em geral uma esperança, direção e também explicação. Se apegar a fatores sobrenaturais é o que as pessoas fazem pra se manterem vivas. Uma pessoa hospitalizada com esperança em algo externo se esforça para se manter mais, esperando que algo interceda a seu favor.

Existem mentiras milenares que nascem pra organizar a vida social. Necessárias, essas mentiras mantiveram as sociedades e as mantém ainda hoje. A ideologia do sentido falseia mais uma vez as relações sociais reais e a vida material como ela é.

O ser que vive tende instintivamente a manter seu estado, é a conservação presente em nosso lado animal, então a existência sendo provadamente sofrida, têm de ter sentido. Ai entra a imaginação e com suas habilidades fantasiosas cria coisas como cristianismo ou judaísmo.
O homem moderno ocidental, mesmo que se desvencilhando do cristianismo, continua ainda sim procurando sentidos. Poderíamos adaptar a velha frase de Nietzsche sobre os filósofos e dizer: ‘O homem atual é anticristão mas de maneira nenhuma anti-religioso’, pois faz de sua vida uma busca e procura em ideais matéria para se justificar e se manter.

A existência para alguns é a felicidade e o prazer que se pode encontrar. A derrota e a dor permeiam a história dos povos, mas se a existência é frágil e inevitável, e se existir não traz maiores consequências senão não-existir, se é desnecessário mas também inconsequente, então o que mantém o niilista vivo é a curiosidade. Curiosidade pra saber o que o caos nos reserva, o que a vida pode se tornar e se deleitar com momentos.

Um sentido metafísico é o suficiente pra quem não traçou caminhos de conhecimento e reflexão. Agora o caos determina alguns agentes para percorrerem estradas inusuais e estes não mais podem voltar atrás. A vida não têm mais uma direção pré definida e a lógica por trás do sentido cai por terra.

Sobra a cada um deles se esforçar pra transcender de vez em seus caminhos e completar sua jornada vivendo de maneira unica. Ou se entregarem a vida comum e morrerem no meio do caminho, pois voltar pra lógica comum não é mais possível e viver no meio termo é desolador.

Uma existência plena é unicamente uma existência boa, o resto é mera curiosidade e falta de opção.

Ai o mito grego se mostra mais profundo do que inicialmente nos parece:


’Um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo.
Então Pandora, com sua curiosidade, abriu o frasco, todo o seu conteúdo, exceto um item, foi liberado para o mundo. O item remanescente foi a esperança.”

comments