Vagando pelas noites elétricas na década de trinta a vida era boa e ainda continua, mas não com o mesmo vigor de outrora. Eu era belo e desvirtuado na mesma medida, um moço cheio de sonhos e encorajado a obtê-los, como outro qualquer. Trabalhava de segunda a sexta em uma fábrica de sapatos e morava em uma pensão. O trabalho não era bom, mas dava pra levar, suprindo as necessidades e a moradia era conservada e acomodável. Tinha poucos amigos, mas os que tinha valiam por muitos. Costumávamos sair todo final de semana logo após o árduo trabalho, eles trabalhavam comigo, mas não no mesmo setor.
A sexta chegava, a alegria era felicidade e a noite era o bálsamo. Nada me deixava mais feliz naqueles dias. A sensação de liberdade pairava no ar. Os rostos brilhavam na noite serena, a música era o ritmo da noite e a bebida era o remédio que parava o tempo. Os bares eram cheios, mulheres bonitas, tímidas rejeitadoras. Sexta e sábado, malandros e certinhos, operários e burgueses, a felicidade era mútua. Isso ninguém poderia nos tirar, a bebida e a música, o prazer era nossa liberdade. As vagas caminhadas na madrugada acenando para os carros, beijando as meninas. Amigos bêbados e desesperados, alheios ao destino, compartilhando a mesma vida. A vida era boa.