17 de julho de 2013

A Filosofia da Contradição I


Poderia eu aqui, flertando com o academicismo, fazer um texto bem referenciado e citando suas fontes. Mas admito como autor que muito do qual discorro o faço de maneira vaga, tendo uma noção geral das fontes e concatenando idéias de maneira quase que promíscua. É um amadorismo filosófico por assim dizer.
Segue-se a isso o fato de que o conhecimento a ser passado e os ímpetos que irá suscitar não dependem de maneira nenhuma de uma referência mais sólida e complexa, então tudo mais constante e dadas as generalizações conceituais, façamos uma análise daquilo que mais me prende filosoficamente atualmente, sobre como ramos da vida humana tem um caráter duplo, não havendo aqui a cura tranquilizadora da simplificação moral, ou seja, não sendo uma má e outra automaticamente boa, ora se não são os opostos corretos cada um em sua medida, restando para nós não mais o julgamento religioso das oposições, mas apenas a migalha do filósofo que se aventura no moderno, a conciliação.


Há no texto todo um ar dialético. Em Hegel temos o esquema básico de Tese, Antítese e Síntese, sendo esta última a superação da contradição das duas primeiras e o movimento do pensamento na historia se faz assim. Dadas algumas adaptações marxistas no conceito, a regra ainda sim não perde sua essência infalível, a existência e o pensamento e todo o movimento que geram são realizados sim por contradições, mas da vida material, que ao mudarem alteram as circunstancias de vida dos indivíduos e a sua maneira de produzir, sua distribuição e assim mudam também suas idéias. Mas como se daria tal superação em seu estágio pleno? A ideia superada compõe em parte o universo da nova ideia, mas de que maneira? Da oposição surge uma destruição inevitável? Ao que se observa, em pelo menos alguns exemplos, é a impossibilidade de uma simples superação, mas a busca de um ponto ótimo entre dois conceitos, dosando-os e criando uma nova versão na qual a nova ideia não é um mero update que supera, mas é a mistura ótima entre duas verdades ou duas mentiras que precisam ser levadas em conta sem se excluírem. Seguem agora exemplos que irão facilitar o entendimento disso e forçar ao leitor mais inquieto a busca de tal ponto otimizador. É como o caráter dual da luz. Esta será uma série de textos de dúvidas.

Individualismo X Holismo

Antes de tudo, falemos do conceito de Holismo – poderíamos citar alguns parágrafos de Durkheim, mas se podemos ser melhores que isso, por qual motivo não ser e citar o primeiro parágrafo da Wikipédia:

Holismo (do grego holos que significa inteiro ou todo) é a ideia de que as propriedades de um sistema, quer se trate de seres humanos ou outros organismos, não podem ser explicadas apenas pela soma dos seus componentes. O sistema como um todo determina como se comportam as partes.

O que eu quero dizer com Holismo aqui é basicamente que forças maiores e externas ao ser humano o influenciam de maneira com que ele não seja auto-suficiente, mas antes moldado por um todo histórico anterior, o ser nasce sob condições de um sistema que o define em diversos aspectos.

Um exemplo holista é a distribuição dos recursos que se dá no capitalismo, gerando a desigualdade social. As forças negativas da pobreza social sobre a vida de uma série de indivíduos os limitam em diversos aspectos. Um ser socialmente desfavorecido não tem a mesma liberdade de escolha, mesmas oportunidades, mesmos exemplos, que o filho de um banqueiro. Não há a possibilidade igualitária de mobilidade e de opções.  Só a diferenciação de força despendida na vida, tendo o desfavorecido que contar com uma genialidade para atingir o que o favorecido apenas alcança como rotina, já excluiu toda ideia de liberdade e mérito individual. Há nessa concepção a idéia de que forças maiores e externas te submetem e te proíbem, que o estado, o capital, o caos de ter nascido em lares menos abastados, a obrigação do sustento, a não ter acesso a conhecimento nem poder aplicar nenhuma cultura, limitem suas ferramentas e te amarrem as mãos até certo ponto.

O sistema limita usualmente o campo de ação do individuo, e quando o mesmo pode optar, as opções também são dadas conforme uma lógica sistemática, e a quantidade de opções bem como sua qualidade, no capitalismo, é obviamente em função ao capital. Ou seja: o todo é maior do que a soma de suas partes.

E até aqui fomos condizentes a muito daquilo que é marxista.


De fato, há nessa concepção diversos temas observáveis e portanto críveis, mas antes de qualquer coisa consideremos o outro extremo.

Parte do existencialismo tenta resgatar o individuo desse poço tirânico e volta a sua atenção para as ações deste. A responsabilidade se torna um argumento importante aqui. Não podemos ignorar que a vida humana age sobre leis de um sistema forte e limitador, foi assim historicamente, mas pensando no homem isoladamente, como no filme Waking Life, uma questão não pode ser evitada - Dada a proporção minúscula de homens que se destacam, qual seria a característica universal da natureza humana: O medo ou a preguiça?

O homem não seria sempre limitado por algo? Não estaria, vivendo socialmente, sempre ligado a um sistema e portanto, suas inevitáveis regras/limitações?

Nisso entra a responsabilidade, não teria o ser que, fazendo valer sua vida, se responsabilizar pelos riscos de suas paixões? Não seria esse, afinal a única coragem da vida humana, a coragem necessária pra ser feliz?
Não consigo deixar de acreditar que o problema da felicidade pessoal no curto prazo esteja atrelado a essas duas abordagens, o sistema é sim limitador e o homem deve sim ser responsável por suas conseqüências e superações – mas lida com a fome, instintos, alienação ou até o tédio de Kierkegaard. Como poderíamos então, dadas essas circunstancias, encontrar o equilíbrio ótimo entre limites do capital e paixões individuais?

Nos sentimos covardes por não arriscar, mas vítimas de um sistema. Nos condenamos e absolvemos e aqui a primeira contradição se mostra: Como conciliar o óbvio Holismo com o inevitável Individualismo.

Primeiro texto desta série que abordará mais questões filosóficas fundamentais sem pretensões maiores. A busca da resposta pode ser tão ingrata quanto boa, ora se não é a ilusão, no curto prazo, tão mais feliz que a sabedoria do longo prazo – já fica a sinalização do próximo tema. Espero que tua resposta não te limite

comments