7 de agosto de 2012

Os Evangelhos Revisitados - De Muscaria para Roma



Aquele que não foi tocado por Herodes, não por poder de confrontamento, mas por escolha evasiva, se fixou em terras distantes, onde o marco de sua adolescência seria construído em bases além da frugal e monótona compreensão que ele possuía.  

Enquanto criança, ele passou boa parte do tempo tendo uma vivencia comum ou o mais próximo do que poderia chegar disso, sendo um estrangeiro em terras guiadas pelas entidades hinduístas. Enquanto adquiria o conhecimento e aproveitava outras coisas que o local oferecia, obteve maturidade física e mental, chegando ao limiar tênue entre fim da adolescência e começo da vida adulta. Exilado em férias pagas pelo suor do pai carpinteiro, Jesus aproveitava ao máximo a psicodelia do leste oriental, como um bom playboy de ensino médio em Porto, na Bahia.

Jesus passava por crises mentais terríveis naquela idade, normais para tal estágio da vida. Só naquele mês, suicidou três vezes. Em vão. Voltava à estaca zero sempre após três dias. Ao final de suas tentativas, restou apenas um monte de vestes sujas de sangue, as quais ele lavava na beira do rio. Aos poucos, a energia e tempo gastos nessas práticas foram focados na degustação de vinhos. De tanto chapar, a monotonia das férias o pegou e ele retornou aos trilhos, decidindo voltar para sua terra natal para concluir seu destino de divindade já traçado, antes, porém, queria uma ultima grande viagem, algo além da costumeira bebedeira. Em tempo, se lembrou da Muscaria que havia ganhado dias antes de seu amigo Shiva, divindade local. Garoto inconseqüente, sempre preocupado com seu bronzeado azulado e cobras, esqueceu de avisar Jesus dos poderosos efeitos do cogumelo.

Trancado no quarto do seu sobrado, de frente para o que, posteriormente, seria conhecido como rio Ganges, Jesus dividiu o cogumelo em três e empurrou as porções com vigorosas tarraçadas de vinho, que potencializaram os efeitos seguintes, que ele gravou em algumas linhas do seu diário de bolso: “Pergunto-me do que é feita essa tal Muscaria. Mais interessante que isso é a metamorfose que ela nos causa por dentro, como se o mundo seguisse por meses enquanto minha cabeça tinha o ritmo de dias. Por um momento eu visualizei um oasis, como aqueles aos redores de minha terra natal, onde um camelo repousava próximo de um rio. Voando de encontro à suas corcovas, senti que ia colidir, entretanto, fui absorvido. Dentro de sua corcova, o espaço era limitado e minhas vestes já invisíveis. Minha barba regrediu para dentro do rosto, enquanto um cordão emergiu das paredes internas do camelo, se ligando ao meu umbigo. Em sua corcova eu repousei, como dentro de Maria. Era mais uma daquelas brisas intrauterinas, bem legais até. O cordão injetava em meu umbigo uma solução gelatinosa, que subia pelo esôfago e revelava o seu sabor de limão. Durante o processo, notei que tinha um vizinho na corcova ao lado, mesmo no escuro eu sentia a presença dele lá. Pouco falava, limitou-se a cumprimentar com um brado de terras distantes: - ‘Saravá!’. Sinto que ele passa por uma situação ruim como a minha, mas de morango. Espero pensar na possibilidade de repousar em um dromedário na próxima vez, seria menos assustador ficar sozinho dentro da minha cabeça. Trancado em minha mente atordoada por dias, meu corpo rumou sem controle por todo o mundo velho, onde se atreveu a atravessar mar a pé, indo para os confins romanos. Já eram mais de cinco dias sob forte efeito alucinógeno, do qual não tinha forças para sair. Sem noção do que estava acontecendo, acabei interagindo com garotas romanas que ainda não eram nem mesmo moças. Não daria menos de doze, ainda mais com aqueles corpos de vinte aninhos, fácil confusão entre idades tão semelhantes. A lei me achou. Ainda bem que ser filho do dono tem suas vantagens, os advogados são ótimos. Agora arquivo essa história em papel, enquanto sou extraditado à barco para o oriente, sob pena de morte na cruz, caso volte à Roma chapado outra vez. Espero que Judas me busque de carroça no porto, nem por um milagre eu volto a pé, não nesse estado.

A breve chapação burguesa de Jesus, descrita acima e gravada em papeis sagrados, resistiu ao tempo, servindo de exemplo para o mundo moderno e teve participação fundamental na criação daquilo que um dia seria conhecida como “noite paulistana”, celebração que acontece nas fervorosidades católicas dos finais de semana da rua Augusta, local nomeado em homenagem às mulheres romanas.

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