25 de julho de 2012

Sarcasmos de Vida e Ironias da Morte. (Parte 2)


A morte é um clichê inevitável, dizia o poeta. Como se algum clichê não fosse.


O Viajante

Viajante desregulado e sábio aventureiro, este nobre ser perambulava deixando para trás lembranças ou dívidas, ninguém sabe. Ás vezes as ações mais belas escondem os motivos mais sórdidos. Se viajar era belo para tal homem, experimentar era necessário. Caminhou estradas retas e tortas sem saber o motivo e ficar nunca soou sensato, mas retornar, isso sim soava. Deparou-se com o mar, este assassino cruel, e resolveu estudar tal predador. Nadando exageradamente foi pra muito longe - distante o suficiente pra sorte virar azar. Baleias são muito dóceis e por uma mais gentil que o normal, o rapaz que estudava o mar foi devorado. Não aprenderam ainda os animais de verdade a abrirem a boca sem mostrarem os dentes. Mordido, o mergulhador morreu como petisco do enorme peixe sem nada saber dos segredos do mar. Uma pena não se chamar Jonas.

O Poeta

Poetas são seres sensíveis e o que aqui será retratado não é diferente. Inimigo da existência, desejava a morte como alivio de seus martírios, mas não poderia infligir nenhum mal a si mesmo, repito: poetas são sensíveis. Desejou apenas, e o pensamento de abandonar o que conhecemos por vida pelo descanso que acreditamos ser a morte era um bálsamo pra sua alma. A ideia de sentirem sua falta e sofrerem com a ausência era conforto mais que suficiente pra um pensamento de travesseiro, aquele que precede o sono de um dia ruim. Suas poesias falavam mais do que normalmente se pode falar com poesias: ele de fato não sabia muitas vezes o que significava o que escrevia e só depois as próprias palavras ganhavam sentido. Concebia lirismos, desejava fugas, sonhava melhoras. Mas a vida, quem a conhece não poderá negar, a vida luta para opor a vontade de quem vive e quem deseja morrer e não o faz, de maneira nenhuma ela permitirá que parta. Nosso poeta virou eterno e pela eternidade foi amaldiçoado. Seus versos ecoam no tempo e seu corpo não se sabe onde está. Apenas tem o sofrimento como cadeia e seus versos ressoados nas paredes da existência.

(continua)
comments