28 de fevereiro de 2015

O sofrer


Oceano de poesia, sabe-se lá porque, para um coração pulsante o sofrer grita bem mais alto e musicalmente do que qualquer outra experiência. A vida não deixa de ser por si só um grito. Um ponto de exclamação, uma força que quer levantar em suas costas o peso do universo, mas que vê no espelho como é finita e breve, como se leva na maré assim como as coisas que não gritam, não pulsam, não cantam, não sofrem.
Se viver é um grito, amar é um canto. E quem ouve este canto profundo e intenso, como um blues antigo, sabe que não pode evitar dançar. Um pé que bate no chão marcando o tempo e um balanço que toma conta da cabeça, sem se dar conta a música toma conta e define aquele que escuta, que se envolve, que se entrega.
Deixemos de lado a proza musical e voltemos ao amago de toda poesia. O sofrer não é algo singular, se fosse não seria tanta arte, não, muito pelo contrário, este toma milhares de formas, milhares de tons. Cada forma, cada tom, um universo, uma personalidade. Quase como um alguém que vive dentro deste que sofre, dizendo coisas de uma forma única, pois apesar de todos sofrermos, ninguém sofre o mesmo sofrer.
Dentre tais formas, tais tons, existem dois grandes conselheiros, com personalidades distintas. Um anda apressado, sempre correndo contra o tempo, com muito a dizer. Este conhecemos pelo nome medo. O outro não tem pressa em seus passos e não fala tanto assim, um sujeito que pouco se preocupa em agradar ou convencer, este conhecemos por dor.
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