6 de dezembro de 2011

Adoniran Barbosa é fumero

Pra você que não conhece este singelo artista da tradicional boémia paulistana dos anos 60, saiba que sob a imagem de vovô bacana, que ostentou, jazia um grande maconheiro. Ao longo dessa análise, dissertaremos sobre os corres, as laricas e as lombras temporais de Adoniran, o fumero.

"boca tá seca, fi"




Com certeza, Adoniran esteve à frente de sua época nos mais variados fatores possíveis. E um desses fatores era o consumo, em larga escala, de Maria Joana. Em meados dos anos 60 o Brasil passou por um intenso processo interno de reformulação politico-social. Presenciamos a transição de Juscelino Kubtischek para Jânio Quadros enquanto nascia Renato Russo, fundador da perestroika e ainda conseguimos observar nosso irmão de fronteira, Camarões, declarar a independência. E junto a tudo isso, os primeiros tabletes de maconha, confundidos com rapadura no porto de Tubarão, entraram no Brasil.

Logo a erva filosofal atingiu a boémia paulistana, contagiando um de seus maiores expoentes e o inspirou em uma de suas grandes obras: Tocar na banda. Vamos à analise da letra:

Tocar na banda
Pra ganhar o quê
Duas mariolas
E um cigarro iolanda

Logo na primeira parte podemos observar o uso da gíria típica dos anos 60 "tocar na banda". Expressão que nos remete às bandas em si, pequenas vendas de esquina onde se encontrava de tudo, atualmente tranformadas nos famosos "1,99". Mas ele ia até lá pra ganhar o que, como ele mesmo indagou? Obviamente, um kit maconheiro. Neste kit podemos notar a presença de três itens: Em primeiro lugar, as duas mariolas.



A principio já podemos notar a tradicional larica dos usuários, representada por esse doce composto por banana, posteriormente encontrado nas versões goiaba e caju. Iguaria dos anos 60. Ainda no primeiro trecho da música, podemos notar a citação do famoso "cigarro iolanda", referência direta ao natural de amsterdã, citado na obra "Uma mamada de manhã" por Mr. Catra, poeta contemporâneo. Trata-se de um cigarro de maconha, obviamente. Vamos continuar:


Num relógio
É quatro e vinte
No outro é quatro e meia
É que de um relógio pra outro
As horas vareia

Logo de cara notamos a referência ao horário bíblico de todo maconheiro. 4:20. Momento onde todos aqueles interessados em uma lombra se reúnem e puxam de um a dez cigarros de maconha de maneira descompromissada. Tendo como referencia muitos horários oficiais de diversos países, por isso a confusão de Adoniran no fato das horas possuírem uma variação, o que tradicionalmente cai como uma desculpa para voltar no tempo e repetir 4:20, o famoso remake temporal conhecido como deja vu canábico.

Marquei com a minha nega
Às cinco
Cheguei às cinco e quarenta
Esperar mais
Que vinte minutos
Quem é que agüenta

Como podemos perceber, Adoniran perdeu a noção de tempo após consumir a sua erva. Talvez em decorrência das tais mariolas, que grudam nos dentes e levam um certo tempo para dissolver utilizando apenas a língua, já seca depois do beck. Se atrasou. E sua nega, cheia de si, não soube esperar e respeitar o momento de lombra do bom velho fumero. Voltou pra casa. Mal sabe ela que mariola é um poderoso afrodisíaco natural. Entretanto, o próprio Adoniran entende a impaciência de sua nega, provavelmente se culpando por ter fumado aquele outro.

As dicas ao longo de sua música são clássicas e passam uma importante mensagem para todos aqueles que compartilham do mesmo ideal canábico. Em palavras sucintas podemos destacar: Não fume às 4:20 se você marcou um rolê às 5:00.



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